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domingo, 5 de junho de 2011

“Diagnóstico psicopedagógico: o desafio de montar um quebra-cabeça.”

O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos da aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social.
Antes de iniciar as sessões com o sujeito faz-se uma entrevista contratual com a mãe e/ou o pai e/ou responsável, objetivando colher informações sobre a identificação da criança: nome, filiação, data de nascimento, endereço, nome da pessoa que cuida da criança, escola que frequenta, série, turma, horário, nome da professora, irmãos, escolaridade e idade dos irmãos.
Anota-se também o motivo da consulta, procura do psicopedagogo, indicação, atendimento anterior, expectativa da família e da criança, esclarecimento sobre o trabalho psicopedagógico, definição de local, data e horário para a realização das sessões e honorários.
A anamnese é uma das peças fundamentais deste quebra-cabeça que é o diagnóstico. Por ela nos serão reveladas informações do passado e presente do sujeito juntamente com as variáveis existentes em seu meio. Observaremos a visão da família sobre a história da criança, seus preconceitos, expectativas, afetos, conhecimentos e tudo aquilo que é depositado sobre o sujeito.
O diagnóstico possui uma grande relevância tanto quanto o tratamento. Ele mexe de tal forma com o paciente e sua família que, por muitas vezes, chegam a acreditar que o sujeito teve uma melhora ou tornou-se agressivo e agitado no decorrer do trabalho diagnóstico. Por isso devemos fazê-lo com muito cuidado, observando o comportamento e mudanças que isto pode acarretar no sujeito.
Para os profissionais que optam pela Epistemologia Convergente a anamnese deverá ser realizada somente após as provas piagetianas para não se deixar contaminar pelas informações trazidas pelos familiares sobre a vida da criança, o que poderia interferir no resultado do diagnóstico.
Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento simples, porém rico em seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que mostre o que sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa, após seguinte observação do entrevistador: “este material é para que você o use se precisar mostrar-me o que lhe falei que queria saber de você” (Visca, 1987, p.72).
Segundo Weis, o objetivo da anamnese é “colher dados significativos sobre a história de vida do paciente” (2003, p. 61). Consiste em entrevistar o pai e/ou a mãe, ou responsável para, a partir disso, extrair o máximo de informações possíveis sobre o sujeito, realizando uma posterior análise e levantamento do 3º sistema de hipóteses. Para isto, é preciso que seja muito bem conduzida e registrada.
O psicopedagogo deverá deixá-los à vontade “... para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos sobre a criança, para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à aprendizagem”. (Id. Ibid.. 2003, p.62)
Deixá-los falar espontaneamente permite ao psicopedagogo avaliar o que eles recordam para falar, qual a seqüência e a importância dos fatos. Cabe ao psicopedagogo complementar ou aprofundar.
É importante iniciar a entrevista falando sobre a gravidez, pré-natal, concepção. Weis nos informa que “a história do paciente tem início no momento da concepção. Os estudos de Verny (1989) sobre Psicologia pré-natal e perinatal vêm reforçar a importância desses momentos na vida do indivíduo e, e algum modo, nos aspectos inconscientes de aprendizagem”. (2003, p.64)
Posteriormente, é importante saber sobre as primeiras aprendizagens não escolares ou informais, tais como: como aprendeu a usar a mamadeira, o copo, a colher: como e quando aprendeu a engatinhar, a andar, a andar de velocípede, a controlar os esfíncteres etc. A intenção é descobrir “em que medida a família possibilita o desenvolvimento cognitivo da criança – facilitando a construção de esquemas e deixando desenvolver o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação...” (Weis, 2003, p.66). 
È importantíssimo saber sobre a evolução geral da criança, como ocorreram as diversas fases de desenvolvimento, se houve defasagens, aquisição de hábitos, aquisição da fala, alimentação, horários de sono etc.
Para que se possa fazer um bom diagnóstico, todas as informações consideradas essenciais na anamnese devem ser registradas.
Encerrada a anamnese, o psicopedagogo levantará o 3º sistema de hipóteses. A anamnese deverá ser confrontada com todo o trabalho para se fazer a devolução do diagnóstico e o encaminhamento.
Quando se trata de uma criança, a devolução do diagnóstico é feita por meio de uma entrevista que se realiza primeiramente com a criança e depois com os pais. Segundo Weis os dados devem ser organizados em três áreas: pedagógica, cognitiva e afetivo-social.
É importante que se toque inicialmente nos aspectos mais positivos do paciente para que o mesmo se sinta valorizado. Depois deverão ser revelados os pontos causadores dos problemas de aprendizagem.
Posteriormente a esta conduta deverão ser mencionadas as recomendações e as indicações. Muitas vezes faz-se necessário o encaminhamento para mais de um profissional. Para não complicar a vida da família de baixa renda (nível socioeconômico baixo), o psicopedagogo deverá ter algumas indicações de instituições públicas, que ofereçam serviços gratuitos ou com diferentes formas de pagamento. Isso evitará que o problema levantado pelo diagnóstico fique sem uma posterior solução.
O informe é um laudo do que foi diagnosticado. Ele é solicitado muitas vezes pela escola, outros profissionais etc. Sua finalidade é resumir as conclusões a que se chegou em busca de respostas às perguntas que motivaram o diagnóstico.

Análise crítica

A realização da anamnese é importantíssima para que o psicopedagogo possa identificar, de maneira profunda e investigativa, os motivos que levaram o paciente a desenvolver certos quadros de dificuldades ou distúrbios de aprendizagem.
Concordo com Visca, quando diz que as aplicações das provas piagetianas, com crianças, devem ocorrer antes que a anamnese seja feita com os familiares das mesmas, pois o resultado do diagnóstico pode ficar seriamente comprometido por conceitos errôneos, contaminados pela enorme quantia de informações que a família passa ao psicopedagogo sobre o paciente.
É importante observar a temática, ou seja, tudo aquilo que o sujeito diz, porém, sem deixar de ver a dinâmica, ou seja, tudo aquilo que o sujeito faz: seus gestos, tom de voz, postura corporal etc. A forma de pegar o material, de sentar-se, de interagir com o profissional, são tão ou mais reveladores do que comentários feitos por familiares, por vezes, cansados do comportamento da criança, considerado por eles como anormal ou inadequado.
Como profissional, sou favorável às provas operatórias. Segundo Weis, elas têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções básicas do desenvolvimento cognitivo e detectam o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que ela opera. (2003, p.106).
Considero também importante deixar o paciente se expressar espontaneamente, pois permite ao psicopedagogo avaliar o quanto ele recorda para falar, qual a sequência dos pensamentos e a importância dos fatos descritos. São momentos propícios para, além de revelar o grau de desenvolvimento cognitivo, afetivo-social e psicomotor, diagnosticar defasagens para futuras intervenções.
Finalizando, ao fazer a devolução da anamnese, ratifico a importância de mencionar primeiramente os aspectos positivos do paciente  e só depois relatar cuidadosamente os pontos negativos, como possíveis causadores dos problemas de aprendizagem. Agindo desta forma, evitará que o paciente reaja negativamente, inviabilizando a possibilidade de novas conquistas.

Fonte: ARAÚJO, S. S. M. M. “Diagnóstico psicopedagógico: o desafio de montar um quebra-cabeça.” Revista Psicologia Brasil, p. 32 – 35. Resenha de LEITE, O. S. de L.

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